quinta-feira, 6 de junho de 2024

Quem é a pedra em Mateus 16:18?


  Uns dizem ser Pedro. Outros, Jesus. Outros ainda dizem não ter certeza. 

Jesus disse: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja.

A solução, para alguns, está no uso do Pronome Demonstrativo (esta), pois, majoritariamente, o demonstrativo citado se refere a um ser ou a algo que está próximo do falante. Enquanto o demonstrativo (isso) se refere ao que está distante. Assim ensinam as gramáticas do Português. Todavia, isso não resolve, uma vez que não sabemos a distância em que Jesus estava de Pedro. Ademais, analisando o termo grego traduzido por (esta), a saber, {outós}, vimos que pode ser trazido tanto por (esta) como por (essa). E quando o grego quer indicar algo bem mais distante de quem fala mostra o uso do demonstrativo {ekeinos}. E, para complicar mais, às vezes ekeinos faz referência à proximidade como em (Jo 7:45) e é traduzido por (este). E agora? Só resta sabermos o que autores da Bíblia disseram a respeito. Segundo o salmista (118:22), o apóstolo Mateus (21:42), Lucas (At 4:11-12). Pra encerrar, de acordo com o interlocutor de Jesus, o próprio Pedro, a pedra é Jesus (1Pe 2:4-6). Logo, uma vez que Pedro não usou pra si o termo pedra em seus sermões ou epístolas, fica impossível vê-lo doutra maneira senão um servo da Grande Pedra rejeitada pelos pecadores, Jesus de Nazaré. 

No Amor de Cristo,

Itard Víctor

sábado, 25 de maio de 2024

Daniel virou Eunuco?

 A glória de Deus é encobrir as coisas; mas a glória dos reis é tentar descobri-las. (Pv 25.2)


O profeta Daniel teria virado eunuco, já que não temos menção da sua prole? 

A Bíblia nos dá alguns sinais:

1- Havia profecia afirmando que alguns dos cativos na Babilônia virariam eunuco (Is 39.7);

2- Ao chegar na Babilônia, Daniel e seus amigos ficaram sob a tutela de um chefe dos eunucos (Dn 1:3-6);

3- Uma vez que é possível que o profeta fosse da descendência de um Rei (Dn 1:3), temendo que um dia ele fosse coroado, e causasse uma revolução no império, Nabucodonosor mandou que o deixasse eunuco. Uma vez eunuco, não haveria coroação sobre quem não poderia gerar um descendente real. 

Obs: Isso é apenas o que eu achei sobre o profeta. Ele mesmo em seu livro não afirmou nem negou que virou eunuco. Itard Víctor

quarta-feira, 29 de março de 2023

Por quem Cristo morreu?

 


         A maioria dos nossos irmãos calvinistas em nossos dias respondem que Cristo morreu apenas pelos eleitos. E explicam isso dizendo, por exemplo, que a palavra (mundo) em Jo 3.16 significa mundo dos eleitos. Essa ideia seletiva de salvação também é aplicada na expressão (todos os homens) em 1Tm 2.4. 

       Contudo, teólogos do passado os quais são autoridades no meio calvinista, dão outras interpretações que contrariam o entendimento dos de hoje. Vejamos:

Por quem Cristo morreu? 

Calvino:

 “O Pai celestial *não deseja que a raça humana* a qual  ele ama, pereça. (Comentário de Jo 3.16. Ed. Fiel. 2015. p. 131). 

“ Enquanto Cristo estiver fora de nós e nós dele separados, tudo quanto padeceu e fez pela *salvação do gênero humano* nos é inútil…”. (Institutas. Ed. Unesp. 2009. p. 17). 


Spurgeon:

 “Vocês devem, a maioria de vocês estar familiarizados com o método geral segundo o qual nossos amigos calvinistas mais antigos lidam com esse texto. ’Todos os homens’ dizem eles, isto é, ‘alguns homens’: como se o Espírito Santo não pudesse ter dito ‘alguns homens’ se ele quisesse dizer alguns homens. (…) O Espírito Santo, através do apóstolo escreveu “todos os homens”, e inquestionavelmente ele quis dizer todos os homens. (…) Meu amor à coerência com minhas próprias opiniões doutrinárias não é grande o suficiente para me permitir alterar intencionalmente um único texto da Escritura. Tenho grande respeito pela ortodoxia, mas minha reverência pela inspiração é muito maior. Eu preferiria cem vezes parecer incoerente comigo mesmo a ser incoerente com a Palavra de Deus. (Sermão baseado em 1Tm 2:3-4. Grand Rapids Christian Classics Ethereal Library. 2002. p. 48-49). 

D. A. Carson:

“Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho (Jo 3.16). Eu sei que alguns calvinistas tentam tomar o grego Kosmos (mundo) aqui para se referir aos que eles chamam de eleitos. Mas isto é realmente não servirá. Todas as evidências do uso da palavra no Evangelho de João são contrárias a está sugestão. (…) o amor de Deus pelo mundo não pode ser reduzido ao seu amor pelos chamados eleitos. (…) Planos exegéticos inteligentes que fazem “mundo” um rótulo para se referirem aos eleitos, não são muito convincentes” (A Difícil Doutrina do Amor de Deus. Ed. CPAD. 2012. P. 17-18, 79).

Millard Erickson, criticando a ideia de que a morte de Cristo é suficiente para todos, mas eficiente apenas para alguns, disse: 

“É como se Deus oferecesse um jantar e preparasse  muito mais alimentos do que é necessário, porém se recusasse a pensar na possibilidade de convidar mais pessoas”. (Teologia Sistemática. Ed. Vida Nova. 2015. P. 799).

        Bem, de fato, é impossível ler na Bíblia que a oferta de expiação dada por Deus via seu Filho Jesus foi para alguns, e não a todos. Entender que a Bíblia se refere a (alguns) usando a palavra (todos), é o mesmo caso do cliente que viu o anúncio que ofertava sapatos de (todas as cores), mas no ato da compra se frustrou ao ouvir do dono da loja que todas as cores significa (algumas cores). Ou seja, uma propaganda enganosa.

No amor de Cristo,

Itard Víctor 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

(Ap 3.10) diz que a Igreja estará na Tribulação?


De acordo com alguns adeptos da visão escatológica denominada de Pós-Tribulacionismo, o texto contido em (Ap 3.10), é mais uma referência de que Deus manterá sua Igreja na Terra no período da Grande Tribulação. Esta ideia é fundamentada por eles com base no sentido da preposição ἐκ (Gr. ek) a qual existe no texto grego:

ὅτι ἐτήρησας τὸν λόγον τῆς ὑπομονῆς μου, κἀγώ σε τηρήσω ἐκ τῆς ὥρας τοῦ πειρασμοῦ τῆς μελλούσης ἔρχεσθαι ἐπὶ τῆς οἰκουμένης ὅλης πειράσαι τοὺς κατοικοῦντας ἐπὶ τῆς γῆς.[1].

 De acordo com o gramático, Daniel Wallace, a preposição, a qual ocorre no Texto no caso genitivo, tem os seguintes significados: para fora delonge dedesde depor causa deporpor meio de[2]. Então, com base no sentido de para fora de ou longe de, os pós-tribulacionistas entendem que o Senhor não irá livrar a Igreja da Tribulação, mas na Tribulação, ou seja, os salvos serão preservados em meio ao caos.

Todavia, não pensamos que tal interpretação seja a melhor à luz de outras passagens do Novo Testamento. Por quê?

Bem, em (Ap 3.10) temos a expressão τηρήσω ἐκ (tērēsō ek) traduzida por gardarei de. τηρήσω vem de τηρέω (tērēō). Todavia, há um detalhe que não pode ser deixado de fora. Já somos cientes que a preposição ek é de movimento ou deslocamento. Porém, quando uma preposição de movimento ocorre junto a um verbo estático, sua força é anulada. Exemplo: em (Lc 6.47) o verbo ἐρχόμενος (vir) e a preposição πρός (para) se combinam, pois ambas indicam movimento. Já em (Jo 1.1), a mesma preposição πρός, traduzida como (com), não combina com o verbo (estava), já que este é estático e a preposição transitiva. Outro exemplo interessante ocorre com a preposição de movimento de fora para dentro εἰς (eis) e o verbo estático τηρέω (tēreō) em (At 25.4), onde vemos que Paulo foi colocado e mantido provisoriamente na cadeia[3].  Aliás, a preposição εἰς poderia ter sido inserida por João, caso este quisesse indicar a entrada e a permanência provisória e/ou definitiva da Igreja na Tribulação. João ainda poderia ter feito uso da preposição ἐν (en) ou διὰ (dia), as quais têm os significados temporais: dentro de e durante[4].  Por exemplo: no Novo Testamento, en é usada pelo menos em duas ocasiões junto ao verbo tēreō indicando permanência, a saber, Pedro sendo mantido ou guardado dentro da prisão após sua introdução (At 12. 5); e a herança de Deus, da mesma maneira, guardada (dentro) no céu (1 Ped. 1: 4). João tinha conhecimento destas preposições. Mas, prossigamos à conclusão. 

Bem, aplicando a regra, a preposição ek de (Ap 3.10) tem sua força anulada pelo verbo estático tērēō. Logo, não se pode exegeticamente entender que o apóstolo prometeu aos leitores do seu livro que a Igreja será introduzida e mantida-protegida na - Tribulação. Isto é (Ap 3.10) não tem força pós-tribulacionista, sobretudo porque a ideia de preservação dos salvos dentro do caos, além de também não encaixar com a revelação bíblica dos mártires mortos em grande tribulação (Ap. 6, 7), não corrobora com os textos os quais apresentam a ira vindoura de Deus sobre os que o rejeitou, e não para a Igreja fiel, a Noiva do Cordeiro (Rm 5.9; 1Ts 1:10, 5:9).

 No amor de Cristo,

Itard Víctor



[1] ALAND, Kurt; ALAND, Barbara; KARAVIDOPOULOS, Johannes; MARTINI, Carlo M; METZGER, Bruce M. O Novo Testamento Grego. Quinta edição revisa. Edição com aparato crítico e introdução em português. Barueri: SBB, 2018.

[2] WALLACE, Daniel B. Gramática Grega, Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento. 1ª edição em português, 2009. P. 371. EBR

[3] Op.Cit. p. 359. 

[4] Op.Cit. p. 369, 372

 

quinta-feira, 4 de março de 2021

“Aborto” é a melhor tradução?

 




                                                                              Επίστευσα, διὸ ἐλάλησα

                                                                                    Cri, por isso falei 

 

Analisando (Ex 21:22), percebo que a expressão ( וְיָצְאוּ ), não é bem traduzida quando optam por ( aborto ). Por quê? Porque a palavra יָצָא (sair, trazer para fora, dar à luz, conforme o Halot, Holladay, Strong) é empregada no contexto de vivência, por exemplo, (Jó 1.21; Gn 25.26). Nesse caso, a expressão hebraica tem o sentido de um (nascimento prematuro, mas sem o óbito do bebê). É por isso que a punição era apenas financeira. Se o texto tratasse do aborto, ao invés do pagamento de uma taxa, o criminoso pagaria com a vida, pois esta era a sentença caso ele assassinasse a mãe (verso 23). E, para corroborar minha suposição, cito os textos os quais mostram que o feto recebe as mesmas características de um nascido e, portanto, para Deus tem o mesmo valor, o que fortalece a presente ideia de que a pena para um aborto não seria apenas financeira. (Sl 139.16, 51.4; Jr 1.5; Gl 1.15; Lc 1.44).

Por Cristo,

Itard Víctor.

 


terça-feira, 2 de março de 2021

Diferença- Pelagianismo, Semipelagianismo e Arminianismo

 


                                                                                           Επίστευσα, διὸ ἐλάλησα

                                                                           Cri, por isso falei 



Diferença- Pelagianismo, Semipelagianismo e Arminianismo?

De forma resumida e objetiva temos as seguintes definições:

Pelagianismo: Ensino o qual conclui que o homem não foi afetado pela desobediência de Adão e Eva. Com base nisto, é entendido que, o ser humano, além de não ter pecado, e poder viver sem ele, é capaz de alcançar a salvação somente pelos seus esforços, ou seja, Deus não tem qualquer participação no ato salvífico. Pelágio, monge irlandês que viveu entre os séculos (IV-V d.C), foi o defensor do que veio a se chamar Pelagianismo.

Semipelagianismo: Ensino o qual conclui que o homem foi um pouco afetado pela desobediência de Adão e Eva, porém ele ainda é capaz de dar sozinho o primeiro passo em direção à salvação. Nesse sistema, Deus continua não sendo o Agente Primário da salvação. João Cassiano, monge francês que viveu entre os séculos (IV-V d.C), foi quem primeiro defendeu o sistema semipelagiano.

Arminianismo: Ensino o qual conclui que o homem foi totalmente afetado pela desobediência de Adão e Eva (Rm 3.23) e, por isto, entende que, sem a participação primária de Deus no processo salvífico, o homem jamais pode responder ao convite à salvação, embora tenha em si o livre-arbítrio para decidir sobre outras coisas. O pecador está caído. Jacó Armínio, pastor holandês que viveu entre os séculos (XVI-XVII d.C), comentou sobre o livre-arbítrio e o estado caído em que o homem se encontra:

O livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro e espiritual, sem a graça. Para que eu não possa ser considerado, como Pelágio, como usando de mentiras com respeito à palavra “graça”, quero dizer, com isto, aquilo que é a graça de Cristo e que diz respeito à regeneração. [...] Confesso que a mente de um homem carnal e natural é obscura e sombria, que os seus afetos são corruptos e desordenados, que a sua vontade é obstinada e desobediente, e que o próprio homem está morto em pecados.[1]

Neste estado, o livre-arbítrio do homem para o que é bom não somente está ferido, aleijado, enfermo, distorcido e enfraquecido; ele também está aprisionado, destruído, e perdido. E os seus poderes não estão somente debilitados e são inúteis (a menos que seja assistido pela graça), mas está totalmente privado de poder, exceto aqueles poderes dados pela graça divina. Pois Cristo disse: ‘sem mim nada podeis fazer’.[2]

Em suma, no Arminianismo, Deus age antecipadamente no processo de salvação do pecador por meio da Graça Preveniente (Sl 59.10; Jo 6.44, 15.16). É esta Graça o que capacita, prepara ou liberta o livre arbítrio do homem à escolha da salvação.

Por Cristo,

Itard Víctor



[1] As Obras de Armínio. Vol 2. P. 406. CPAD, 2015.

[2] Op. Cit. Vol 1. p. 473.


Por que em (At 2:13) há o termo γλεύκους ?

 


                                                                                                               Επίστευσα, διὸ ἐλάλησα

                                                                                                                    Cri, por isso falei 

 

 

Bem, o termo γλεύκους significa um vinho doce, um vinho novo, um suco de uvas não fermentado, de acordo com o TDNT, EDNT, Liddel-Scott, Louw-Nida, Thayer, Friberg, Gingrich. Em Flávio Josefo, o termo γλεύκους foi aplicado após a narrativa da colheita e do espremer imediato de três cachos de uvas em um copo (Ant 2:64).

Por que então Lucas fez uso desse termo em um contexto o qual envolve um deboche, por parte dos descrentes presentes no Pentecostes, relacionado à embriaguez? Porque, γλεύκους, quando colocado num recipiente fechado fermentava. E isto parece concordar com o que estava na mente do tradutor da LXX quanto este trabalhou no texto de (Jó 32.19), haja vista haver a expressão, γλεύκους ζέων, isto é, suco ou vinho fermentado. Jó estava ansioso ou empolgado para se expressar, por isto estava a ponto de não aguentar mais conter as palavras.

 

Por cristo,

Itard Víctor