De
acordo com alguns adeptos da visão escatológica denominada de
Pós-Tribulacionismo, o texto contido em (Ap 3.10), é mais uma referência de que
Deus manterá sua Igreja na Terra no período da Grande Tribulação. Esta ideia é
fundamentada por eles com base no sentido da preposição ἐκ (Gr.
ek) a qual existe no texto grego:
ὅτι ἐτήρησας τὸν λόγον τῆς ὑπομονῆς μου, κἀγώ σε τηρήσω ἐκ τῆς ὥρας τοῦ πειρασμοῦ τῆς μελλούσης ἔρχεσθαι ἐπὶ τῆς οἰκουμένης ὅλης πειράσαι τοὺς κατοικοῦντας ἐπὶ τῆς γῆς.[1].
De acordo com o gramático, Daniel Wallace, a preposição, a qual ocorre no Texto no caso genitivo, tem os seguintes significados: para fora de; longe de; desde de; por causa de; por, por meio de[2]. Então, com base no sentido de para fora de ou longe de, os pós-tribulacionistas entendem que o Senhor não irá livrar a Igreja da Tribulação, mas na Tribulação, ou seja, os salvos serão preservados em meio ao caos.
Todavia,
não pensamos que tal interpretação seja a melhor à luz de outras passagens do
Novo Testamento. Por quê?
Bem, em (Ap 3.10) temos a expressão τηρήσω ἐκ (tērēsō ek) traduzida por gardarei de. τηρήσω vem de τηρέω (tērēō). Todavia, há um detalhe que não pode ser deixado de fora. Já somos cientes que a preposição ek é de movimento ou deslocamento. Porém, quando uma preposição de movimento ocorre junto a um verbo estático, sua força é anulada. Exemplo: em (Lc 6.47) o verbo ἐρχόμενος (vir) e a preposição πρός (para) se combinam, pois ambas indicam movimento. Já em (Jo 1.1), a mesma preposição πρός, traduzida como (com), não combina com o verbo (estava), já que este é estático e a preposição transitiva. Outro exemplo interessante ocorre com a preposição de movimento de fora para dentro εἰς (eis) e o verbo estático τηρέω (tēreō) em (At 25.4), onde vemos que Paulo foi colocado e mantido provisoriamente na cadeia[3]. Aliás, a preposição εἰς poderia ter sido inserida por João, caso este quisesse indicar a entrada e a permanência provisória e/ou definitiva da Igreja na Tribulação. João ainda poderia ter feito uso da preposição ἐν (en) ou διὰ (dia), as quais têm os significados temporais: dentro de e durante[4]. Por exemplo: no Novo Testamento, en é usada pelo menos em duas ocasiões junto ao verbo tēreō indicando permanência, a saber, Pedro sendo mantido ou guardado dentro da prisão após sua introdução (At 12. 5); e a herança de Deus, da mesma maneira, guardada (dentro) no céu (1 Ped. 1: 4). João tinha conhecimento destas preposições. Mas, prossigamos à conclusão.
Bem, aplicando a regra, a preposição ek de (Ap 3.10) tem sua força anulada pelo verbo estático tērēō. Logo, não se pode exegeticamente entender que o apóstolo prometeu aos leitores do seu livro que a Igreja será introduzida e mantida-protegida na - Tribulação. Isto é (Ap 3.10) não tem força pós-tribulacionista, sobretudo porque a ideia de preservação dos salvos dentro do caos, além de também não encaixar com a revelação bíblica dos mártires mortos em grande tribulação (Ap. 6, 7), não corrobora com os textos os quais apresentam a ira vindoura de Deus sobre os que o rejeitou, e não para a Igreja fiel, a Noiva do Cordeiro (Rm 5.9; 1Ts 1:10, 5:9).
No amor de Cristo,
Itard
Víctor
[1] ALAND,
Kurt; ALAND, Barbara; KARAVIDOPOULOS, Johannes; MARTINI, Carlo M; METZGER,
Bruce M. O Novo Testamento Grego. Quinta edição revisa. Edição com aparato
crítico e introdução em português. Barueri: SBB, 2018.
[2] WALLACE,
Daniel B. Gramática Grega, Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento. 1ª edição
em português, 2009. P. 371. EBR
[3] Op.Cit. p. 359.
[4] Op.Cit. p. 369, 372