"Em 1756, Wesley apresentou [An Adress to the Clergy” [Discurso ao
clero], texto que os futuros pastores de nosso tempo deveriam ler como parte de
seu treinamento. Ao discutir o tipo de habilidades que um pastor deveria ter,
Wesley distinguiu entre “dons naturais” e “habilidades adquiridas”. É
extremamente instrutivo ponderar as habilidades que Wesley considerava que um
ministro deveria adquirir:
(1) Como alguém que se esforça para explicar a Escritura a outras
pessoas, tenho o conhecimento necessário para que ela possa ser luz nos
caminhos dessas pessoas? [...] Estou familiarizado com as várias partes da
Escritura; com todas as partes do Antigo Testamento e do Novo Testamento? Ao
ouvir qualquer texto, conheço o seu contexto e os seus paralelos? [...] Conheço
a construção gramatical dos quatro evangelhos, de Atos, das epístolas; tenho
domínio sobre o sentido espiritual (bem como o literal) do que eu leio? [...] Conheço
as objeções que judeus, deístas, papistas, socinianos e todos os outros
sectários fazem às passagens da Escritura, ou a partir delas [...] ? Estou
preparado para oferecer respostas satisfatórias a cada uma dessas objeções?
(2) Conheço grego e hebraico? De outra forma, como poderei (como
faz todo ministro) não somente explicar os livros que estão escritos nessas
línguas, mas também defendê-los contra todos os oponentes? Estou à mercê de
cada pessoa que conhece, ou pelo menos pretende conhecer, o original? [...]
Entendo a linguagem do Novo Testamento? Tenho domínio sobre ela? Se não,
quantos anos gastei na escola? Quantos na universidade? E o que fiz durante
esses anos todos? Não deveria ficar coberto de vergonha?
(3) Conheço meu próprio ofício? Tenho considerado profundamente
diante de Deus o meu próprio caráter? O que significa ser um embaixador de
Cristo, um enviado do Rei dos céus?
(4) Conheço o suficiente da história profana de modo a confirmar e
ilustrar a sagrada? Estou familiarizado com os costumes antigos dos judeus e de
outras nações mencionadas na Escritura? [...] Sou suficientemente (se não mais)
versado em geografia, de modo a conhecer a situação e dar alguma explicação de
todos os lugares consideráveis mencionados nela?
(5) Conheço suficientemente as ciências? Fui capaz de penetrar em
sua lógica? Se não, provavelmente não irei muito longe, a não ser tropeçar em
seu umbral [...]. Ou, ao contrário, minha estúpida indolência e preguiça me
fizeram crer naquilo que tolos e cavalheiros simplórios afirmam: “que a lógica
não serve para nada?” Ela é boa pelo menos [...] para fazer as pessoas falarem
menos — ao lhes mostrar qual é, e qual não é, o ponto de uma discussão; e quão
extremamente difícil é provar qualquer coisa. Conheço metafísica; se não
conheço a profundidade dos eruditos — as sutilezas de Duns Scotus ou de Tomás
de Aquino — pelo menos sei os primeiros rudimentos, os princípios gerais dessa
útil ciência? Fui capaz de conhecer o suficiente dela, de modo que isso clareie
minha própria apreensão e classifique minhas ideias em categorias apropriadas;
de modo que isso me capacite a ler, com fluência e prazer, além de proveito, as
obras do Dr. Henry Moore, a “Search After Truth” [A busca da verdade] de
Malebranche, e a “Demonstration of the Being and Attributes of God”
[Demonstração do ser e dos atributos de Deus] de Dr. Clark? Compreendo a
filosofia natural? Compreendo Gravesande, Keill, os Principia de Isaac Newton,
com sua “teoria da luz e das cores”?
Além disso, tenho alguma bagagem de conhecimento matemático? [...] Se
não avancei assim, se ainda sou um noviço, que é que eu tenho feito desde os
tempos em que saí da escola?
(6) Estou familiarizado com os Pais; pelo menos com aqueles
veneráveis homens que viveram nos primeiros tempos da igreja? Li e reli os
restos dourados de Clemente Romano, de Inácio e Policarpo, e dei uma lida, pelo
menos, nos trabalhos de Justino Mártir, Tertuliano, Orígenes, Clemente de
Alexandria e de Cipriano?
(7) Tenho conhecimento adequado do mundo? Tenho estudado as pessoas
(bem como os livros), e observado seus temperamentos, máximas e costumes? [...]
Esforço-me para não ser rude ou mal educado: [...] sou [...] afável e cortês
para com todas as pessoas?
Se
sou deficiente mesmo nas capacidades mais básicas, não deveria me arrepender
frequentemente dessa falta? Quão frequentemente [...] tenho sido menos útil do
que eu poderia ter sido!
É
notável essa perspectiva de Wesley de como deve ser o pastor: um cavalheiro,
hábil nas Escrituras e conhecedor da história, da filosofia e da ciência de seu
tempo. Quantos pastores graduados em nossos seminários se enquadrariam nesse
modelo? O historiador eclesiástico e teólogo David Wells chamou nossa geração
atual de pastores de “os novos obstáculos”, porque abandonaram o papel
tradicional do pastor como um proclamador da verdade para a sua congregação, e
substituíram-no por um novo modelo gerencial que enfatiza as habilidades de
liderança, marketing e administração. Como resultado, a igreja tem produzido
uma geração de cristãos para os quais a teologia é irrelevante e cujas vidas
fora da igreja praticamente não difere em nada da dos ateus. Esses novos
pastores gerentes, queixa-se Wells, “têm maltratado e despreparado a igreja;
eles têm deixado a igreja cada vez mais vulnerável a todas as seduções da
modernidade, exatamente porque não ofereceram a alternativa, que é uma vida
centrada em Deus e sua verdade”. Precisamos recuperar o modelo tradicional de
homens como Wesley."
FONTE:http://www.reasonablefaith.org/portuguese/estagnacaeo-intelectual
Nenhum comentário:
Postar um comentário