segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

John Stott e F.F. Bruce comentam Lc 23:43 e Ap 20:10



                Não é estranho ver ou ouvir os adeptos da teoria do Aniquilacionismo ou do Sono da Alma, citando os já falecidos escritores John Stott e F.F. Bruce, como “reforço” de que essas crenças foram absorvidas por gente de grande fama no meio evangélico. Todavia após pesquisas em minha singela biblioteca, notei que isso não procede, já que os citados autores tinham uma visão oposta. Por quê? Porque os adeptos do Aniquilacionismo não acreditam que o ex-ladrão da cruz tenha ido no dia em que morreu para o Paraíso, mas que está nesse momento exterminado ou na inexistência. Mas, vejamos o que realmente Stott e Bruce disseram acerca da imortalidade do ladrão arrependido e do sofrimento dos ímpios no Lago de fogo que para os aniquilacionistas não é um sofrimento literal. Assim disse Stott:

“Jesus lhe respondeu: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso”. (Lucas 23.43)
Todos os quatro evangelistas mencionam que três cruzes foram erguidas no Gólgota (“lugar chamado Caveira” [v. 33]) naquela manhã fatídica. Eles deixam claro que Jesus estava na cruz do meio, enquanto os dois ladrões (“criminosos”, de acordo com Lucas) foram crucificados um de cada lado de Jesus.

A princípio os dois ladrões juntaram-se ao coro de ódio a que Jesus foi submetido (Mt 27.44). No entanto, apenas um continuou, lançando-lhe insultos e desafiando-o a salvar a si mesmo e a eles. O segundo ladrão repreendeu o primeiro dizendo: “Você não teme a Deus nem estando sob a mesma sentença? Nós estamos sendo punidos com justiça… Mas este homem não cometeu nenhum mal” (Lc 23.40-41). Então, voltando-se para Jesus, disse: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino” (v. 42).

Esse reconhecimento da realeza de Jesus é extraordinário. Sem dúvida o ladrão arrependido ouvira os sacerdotes zombando da declaração de Jesus de que era rei de Israel, e provavelmente lera a inscrição sobre a sua cabeça: “Este é Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”. Certamente também observara a dignidade silenciosa e régia de Jesus. Diante de tudo isso, ele passara a acreditar que Jesus era rei. Ele também ouvira a oração de Jesus por perdão para os seus executores, e sabia que precisava de perdão uma vez que confessara estar sendo punido com justiça.

Jesus respondeu ao ladrão penitente com esta afirmação memorável: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (v. 43). Não houve recriminações. Ele não foi censurado por haver se arrependido somente na décima primeira hora. A autenticidade de seu arrependimento não foi questionada. Jesus simplesmente deu a esse crente arrependido a certeza que ele tanto ansiava ter. Prometeu-lhe não somente a entrada no paraíso, que envolvia a alegria da presença de Cristo, como também uma entrada imediata, naquele mesmo dia. Ele lhe assegurou essas coisas dizendo: “Eu lhe garanto” — a última vez em que usou essa expressão familiar. Imagino que, durante as longas horas de dor que se seguiram, o ladrão perdoado aconchegou o coração e a mente na promessa segura e salvadora de Jesus.” (A Bíblia Toda, o Ano Todo. p. 257, grifo nosso). 

Contudo, mesmo defendendo o que os imortalistas defendem, Stott,  parece que andava coxeando entre dois pensamentos, pois, segundo Norman Geisler, ele andou defendendo também a não existência do homem. Norman escreveu:

“Primeiro, dada a crença de Stott de que os ímpios serão aniquilados e não suportarão a separação eterna de Deus, o uso que ele faz desta linguagem bíblica é enganador e mal empregado; ele parece estar confirmando os ensinamentos das Escrituras, mas, na realidade, os está questionando.

Segundo, Stott, de modo significativo, usa equivocadamente a linguagem ao falar da “realidade” da não-existência. A não-existência é nada, e nada não tem realidade — por definição, é a não-realidade. Falar sobre a suposta não-realidade do inferno como algo real e terrível é inexpressivo e sem sentido.


Terceiro, embora Stott declare ser um “evangélico comprometido” (ibid., 315), a sua visão do inferno não é compatível com as declarações das Escrituras. Tampouco ele, por suas próprias palavras, está comprometido com “a ortodoxia tradicional” (ibid., 314-15); além de ser condenada por outros credos, a sua posição foi condenada pelo Quinto Concilio de Latrão da igreja. (A sua própria Igreja Anglicana é uma derivação católica.) As visões aniquilacionistas de Stott não são católicas ortodoxas nem protestantes ortodoxas. (Norman. Teologia Sistemática. pp. 805-806, 816-817. CPAD). 

Contudo, mesmo tendo pensado nisso em um momento da sua vida, Stott não pode ser usado pelos aniquilacionistas, sobretudo os adventistas do sétimo dia, pois ele não cria na Dupla Aniquilação, pois, como foi mostrado anteriormente, ele defendia a ida consciente dos mortos salvos em Cristo ao Paraíso. Além disso, há quem diga que Stott não fazia apologia ao morte dos ímpios no lago de fogo, mas que tal pensamento estava mais ligado ao lado emocional do que o exegético.

         Convido-vos agora a lerem como F.F. Bruce interpretou os versículos que, para os aniquilacionistas, provam sua teoria.

“5) O Quinto selo: O clamor dos mártires (6. 9-11)
v. 9. vi debaixo do altar: João ainda está no céu “em espírito”; o “altar” é portanto o altar de incenso no templo celestial, no qual as orações dos santos são oferecidas a Deus (8.3,4). As almas dos mártires que oraram são adequadamente retratadas como estando debaixo do altar de onde sobem sua orações.
v.10. Soberano (gr. despotes): Sua oração por vindicação é dirigida a Deus, que está no seu trono (cf Lc 18.7). os habitantes da terra: V. comentário de 3:10. v 11. uma veste branca: Um símbolo das suas benção (cf .7.9,13,14). que esperassem um pouco mais, até que se completasse o número: A perseguição, iniciada em g4 d.C.; precisa completar seu ciclo. Mas, quando toda a história dos mártires for concluída, as orações dos santos no altar caem como juízo sobre a terra (8.5).” (Comentário NVI. p. 2232).

 “ O Diabo, que as enganava foi, lançado no lago de fogo que arde com enxofre. Isso dever ser “o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos” de Mt 25:41. As “correntes inquebráveis e o fogo do castigo” que Milton vislumbra como o calabouço de Satanás na sua queda primeva são destinados a ele por João no fim dos tempos. Onde já haviam sido lançados a besta e o falso profeta: Cf 19:20. Os dois prisioneiros anteriores evidentemente ainda estão aí, pois, junto com seu novo companheiro, serão atormentados dia e noite, para todo o sempre. Visto que a besta e o falso profeta são figuras representativas de sistemas, e não de indivíduos, está em vista aqui evidentemente a destruição definitiva do mal". (Ibid p. 2255 ,grifo nosso). Ora, se crermos que a besta, o falso profeta e o diabo são sistemas, logo teremos que discordar dos textos bíblicos que dizem que o diabo é um ser angelical caído.

Vejamos ainda como F.F. Bruce interpretou o “estar com Cristo” dito por Paulo em (Fp 1:23):

“Estar com Cristo, imediatamente após morrer, é a implicação de Paulo. Contra este pensamento O. Cullman nega que o NT apoie a “ideia de que os mortos estejam vivendo antes da época da volta e, assim, gozando já o fruto do cumprimento final das coisas” (The Early Church p. 165). É possível que esses crentes que, quando morreram, estavam com Cristo, estejam esperando a ressurreição, como Paulo enfatiza (cf 3:21); entretanto esse autor não faz justiça suficiente a Paulo.” (Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. Filipenses.  p.63).

“3:21/ Quando o Salvador vier, transformará o nosso corpo de humilhação. Em 1Co 15:42-53 há uma declaração mais completa. Quer os crentes tenham morrido, quer ainda estejam vivos por ocasião o segundo advento, deverão passar por uma transformação, a fim de herdar o reino eterno de Deus. Os mortos receberão um “corpo espiritual” que substituirá o “corpo natual” que desintegrou; a mortalidade dos que ainda estiverem vivos “será revestida de imortalidade”. (Ibid . p. 144). 

Vale salientar que os que creem na doutrina bíblica da Imortalidade da Alma acreditam que todos os salvos que estão nesse momento na Presença do Senhor, estão aguardando a ressurreição do corpo.   

 Bom, eu acho complicado afirmar que Bruce era adepto do aniquilacionismo, pois em nenhuma das obras oficiais supracitadas ele afirma que o salvo ou o pecador são aniquilados logo após morrerem.  Contudo, diz que diabo será atormentado para todo o sempre.


              E por que não recitar mais uma vez John Stott e sua interpretação acerca do mesmo texto em que F.F.Bruce comentou, isto é Ap 20:10?

“ Segundo, quando os mil anos se passarem, Satanás será liberto da prisão por um curto período e enganará as nações novamente. Ou seja, o esforço missionário da igreja será combatido e restringido. Satanás reunirá povos hostis para um último ataque contra a igreja. No entanto, Cristo, o cavaleiro sobre o cavalo branco, impedirá o conflito. Então o dragão será lançado no lago de fogo, onde encontrará as duas bestas e permanecerá para sempre (Ibid .p. 424, grifo nosso).


         Porém, mas, todavia, entretanto, resolvi complementar esse artigo mostrando que a verdadeira crença da Igreja do Senhor, sempre foi a de que todo aquele que morre servindo ao Todo-Poderoso, ia imediatamente à Sua Presença.

         Em sua epístola aos crentes de Corinto, Clemente  de Roma os informa que os heróis espirituais, Pedro e Paulo, após sofrerem perseguições, apedrejamento, cárcere, partiram para o lugar de Glória ou Santuário, ou seja, para a Presença de Deus:

“Clemente, por exemplo, fala que Pedro e Paulo partiram diretamente para “o lugar santo”, encontrando ali um grande grupo de mártires e santos “aperfeiçoados na caridade”. (Patrística. p. 352, grifo nosso).

            Policarpo ao escrever aos crentes de Filipos, mostrou que concordava com Clemente, ao dizer que Paulo, Rufo Inácio e  Zózimo, já estão nos seus devidos lugares, isto é, junto ao Senhor:

“ Exorto-vos pois todos a obedecer e exercitar toda a paciência, a que vistes com vossos olhos não somente nos bem-aventurados Inácio, Rufo e Zózimo, mas também em outros dos vossos, e no próprio Paulo e nos demais apóstolos, persuadidos que não correram em vão, mas na fé e na justiça, e que já estão no lugar que lhes é devido, junto ao Senhor, com a qual padeceram”. (História Eclesiástica. p. 72, grifo nosso).

               Inácio foi amigo de Policarpo, conheceu o apóstolo João e foi bispo em Antioquia ao suceder o apóstolo Pedro conforme nos diz Eusébio de Cesaréia:

“Ao mesmo tempo adquiriram notoriedade Papias, bispo da igreja em Hierápolis, Inácio, o homem mais celebre para muitos ainda hoje, segundo a obter a sucessão de Pedro no episcopado de Antioquia.” (História Eclesiática. p. 71).

Inácio ao escrever aos crentes de Trales, mostrou que cria que após sua morte ele continuaria a se sacrificar pelos trálios:

“Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus. Eu ainda estou exposto ao perigo, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa. Que sejais encontrados nele sem reprovação.”1

               Ora, como alguém que acreditava em uma sã consciência ao chegar à Presença de Deus poderia não crer na imortalidade da alma e não discordar duramente do sono da alma e do aniquilacionismo? Impossível, não é? 

            Vale ressaltar que Clemente, Policarpo e Inácio foram discípulos diretos dos apóstolos, e se eles defendiam o acesso direto e consciente a Deus, é porque foram instruídos dessa forma, pois esse é o ensino bíblico (Gn 5:24; 2Rs 2:1-11; Lc 23:43; Fp 1:21-23; Ap 6:9). Dessa forma, fica externada a verdadeira crença desses homens que muito contribuíram para a Verdade. 

                                                                                  Primeiro a Verdade, depois as nossas opiniões.
   
Bibliografia:
STOTT, John. A Bíblia Toda, o Ano Todo. 8ª impressão. 2007. ULTIMATO.

BRUCE,F.F. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. Filipenses. VIDA.
  
Comentário Bíblico NVI. Org. F. F. Bruce. 1ª edição 2008. 1ª reimpressão 2009. Vida.
KELLY, J.N.D. Patrística. 2009. Vida Nova. 

Eusébio de Cesaréia. História Ecleciástica. 2002. Novo Século
1Biblieworks9 –Software. 

2 comentários:

  1. Olá Itard

    Bom dia

    O anquilacionismo naõ é possível. Pois de acordo com a crença mortalista, alma vivente = fôlego de vida + corpo, ora quando o fôlego sai do corpo nenhum dos dois "somem" ou desaparecem no nada, porém continuam existindo o corpo como pó e o fôlego voltando para Deus, até porque o fôlego de vida tem uma característica que está na prórpia nomenclatura da mesma que é a vida. A crença mortalista quando cre que a alma morre deixa uma lacuna no processo e desarmoniza o entendimento pois como eu escrevi anteriormente tanto o corpo quanto o fôlego existem e aí se faz obrigatório ter um elemento que tenha uma existência intrínseca que é a alma imortal.

    Deus sempre existiu, existe e existirá e o nada em termos absolutos nunca existiu, existe ou existirá e como Deus criou as coisas a partir do nada e o que isso significa? Significa que Deus criou as coisas a partir dEle mesmo, ou seja não existia Deus e o nada em um lugar separado senão isso descaracterizaria o mesmo. então só a própria plenitude de Deus possibilita o nada em sua essência ou seja a não essência, por isso que o nada em absoluto não pode estar na esfera da criação pois o mesmo em plenitude só existe em Deus pois é necessário a total e plena existência de Deus para possibilitar o nada em 100% ou seja como não existência e não essência.

    Outra coisa no aniquilacionismo por ocasião da destruição final o fôlego volta para Deus ? Se volta não é destruido e não sendo destruido permanece e continua existindo se o fôlego é totalmente destruído então perdeu sua caracteristica fundamental e essencial que é a vida. O corpo virá cinzas então mesmo depois do aniquilamento total tanto o corpo existe.

    Ser aniquilado é voltar para Deus e pasmem é ser salvo !!!Pois o nada em absoluto está dentro de Deus e nunca fora.

    Um abraço

    Luiz

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  2. Olá Itard

    Bom dia

    Permita-me fazer uma correção no parágrafo 3.

    Outra coisa: no aniquilacionismo por ocasião da destruição final o fôlego volta para Deus ? Se volta, não é destruido e não sendo destruido permanece e continua existindo e se o fôlego é totalmente destruído então perdeu sua caracteristica fundamental e essencial que é a vida. Agora se o fôlego de vida não é destruído então tanto o corpo continua como cinzas e cinzas da a idéia de partículas bem pequenas espalhadas ( e nunca aniquiladas, exterminadas ou destruídas totalmente)e o fôlego de vida também continua existindo.

    Então mesmo depois do "aniquilamento total" ambos continuam existindo.

    Um abraço

    Luiz

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