Traduzir
significa transferir e, no caso de uma mensagem escrita, significa passar de
uma língua para outra. No caso da Bíblia, por não conhecer as línguas originais
(hebraico, aramaico e grego), o leitor precisa recorrer a um tradutor. O
tradutor faz a mediação ou passagem de uma língua para outra. Em sua tarefa, o
tradutor tem basicamente duas opções, descritas de forma um tanto lapidar pelo
erudito alemão F. Schleiermacher, em 1813: “Ou o tradutor deixa o escritor
quieto no seu canto, levando, na medida do possível, o leitor até ele; ou deixa
o leitor em paz e, na medida do possível,
traz o escritor até ele”.
O tradutor que
deixa o escritor quieto no seu canto, levando o leitor até ele, faz uma
tradução dita “formal”. Respeita a forma do texto original, conservando a ordem
das palavras, traduzindo verbos por verbos, substantivos por substantivos e
assim por diante. Traduções como Reina-Valera, King James e Almeida são
traduções formais. Além de serem formais, tendem para a linguagem erudita, de
difícil compreensão para as pessoas mais simples. Pode-se dizer que, num caso
assim, o processo de tradução não está de todo concluído, pois solicita uma
grande contribuição do leitor. Por exemplo, uma tradução literal como “cingindo
os lombos do vosso entendimento” (1Pedro 1.13, ARC) requer do leitor o seguinte
processamento: cingir os lombos significa, num contexto oriental, passar uma
tira de pano ou um cinto na altura dos lombos (ou dos rins), para erguer um
pouco e firmar a longa túnica que dificulta os movimentos do homem, com vistas
a maior liberdade de ação, no trabalho; cingir os lombos do entendimento é
fazer, de maneira figurada, a mesma coisa com a mente; portanto, trata-se de
preparar a mente para agir.
O tradutor que
deixa o leitor em paz, trazendo, na medida do possível, o escritor até ele, faz
uma tradução dita “dinâmica” ou “funcional”. Produz uma tradução que soa
natural na língua alvo (no nosso caso, o português). Abre mão da “consistência
cega”, deixando de traduzir um termo do original sempre pela mesma palavra em
português, pois leva em conta o contexto e o significado que a palavra tem em
cada contexto. (Esta maleabilidade justifica o uso da expressão “tradução
dinâmica”.) Entende que uma mesma mensagem pode ser expressa de diferentes
maneiras, sem perda significativa. Procura ser fiel ao leitor, perguntando
sempre se ele entende o que texto que tem diante de si. A Bíblia na Linguagem
de Hoje é o melhor exemplo de tradução dinâmica.
Num caso como o
de 1Pedro 1.13, traduções dinâmicas expressam o significado de forma direta,
dispensando o processo reflexivo do leitor e garantindo que ele entenda a
mensagem de forma imediata e correta. Uma tradução de equivalência dinâmica
como A Bíblia para Todos (Portugal, 2009) diz, em 1Pe 1.13: “tenham o espírito
preparado para a ação”. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje, entendendo que o
espírito ou a mente não age sem a pessoa, diz de forma direta: “estejam prontos
para agir”.
Na prática, é
difícil encontrar uma tradução que seja 100% formal ou 100% dinâmica. A King
James Version é, segundo estudos feitos, apenas 95% formal (expressões
idiomáticas, por exemplo, pouco ou nada significam, em tradução literal); e
traduções como a Bíblia na Linguagem de Hoje apresentam uma tradução dinâmica
em apenas 85% do texto (o que significa que, em 15% do texto, fazem uma
tradução formal ou literal).
Fonte: <http://www.sbb.org.br/a-biblia-sagrada/principios-de-traducao/>.
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