quarta-feira, 5 de junho de 2019

Vale a Pena Reler de Novo





                                                                                                                 Επίστευσα, διὸ ἐλάλησα
                                                                                                                    Cri, por isso falei   



Hoje, passeando pelo vasto “mundo da internet” encontramos uns comentários os quais fizemos numa rede social há alguns anos a respeito do Criador Jesus Cristo. Então, depois de lê-los, logo veio o desejo de reproduzi-lo, uma vez que achamos ser produtivo para os que tem interesse em saber a verdade sobre o que foi tratado.

Bem, após escrevermos que nem a Bíblia, nem os estudiosos sérios do meio cristão, nem a literatura judaica ensinam que o Senhor Jesus Cristo ou o Messias é o arcanjo Miguel, um certo personagem do mundo virtual (o qual não citaremos o nome, já que ele insinuou, na época, que poderia nos processar juridicamente) se direcionou a nós numa naquela rede, insinuando que não líamos nada em relação à crença judaica sobre o arcanjo e sua suposta semelhança com o Criador. Daí em diante, com ar de dominador do conhecimento e desprezo à nossa pessoa, assim teclou:

Personagem:

“Gente que não lê: é fogo. No judaismo de Qunrã, Miguel é chamado de Princípe da Congregação e este prínciep da congregação é chamado de Messias, Raiz de Davi em 4Q285 Fr.4,5. Além disto, em 2 Enoque 33, Miguel é chamado de Intercessor ou mediador diante D-us, E no Testamento de Dan 6:1-5 e no testamnto de Abraão 1:4, Ele é chamado de mediador.
No rolo da guerra, Miguel é mencionado como o Príncipe celestial em 1QM 17:7–8, que cito aqui em aramaico, já que o Itard bem conhece o idioma:
להאיר בשמחה ברית ישראל שלום וברכה לגורל אל להרים באלים משרת מיכאל וממשלת
Em outras palavras, havia SIM dentro judaismo, grupos que identificavam Miguel com o esperado Messias".

Contudo, fomos pesquisar para então termos a certeza de que o personagem estava, de fato, reproduzindo o que dizia. Então, após um certo irmão ter nos ajudado em alguns pontos, assim replicamos:

Nós:

As obras que você mencionou não condiz com o que você pensa.

(1) Quanto a 4Q285, Fr.4,5, tal texto encontra-se bastante fragmentado, sendo bastante difícil e questionável a sua reconstrução. (Para uma discussão sobre a dificuldade acerca da reconstrução e do significado de 4Q285, veja: HANNAH, Darrell D. Michael and Christ: Michael Traditions and Angel Christology in Early Christianity. Tübingen, Mohr Siebeck, 1999, p.66). Além disso, "no Rolo da Guerra, o agente da libertação de Deus é o arcanjo Miguel, ao invés do Messias". (Cf. COLLINS, John J. The Son of God Text From Qumran. In: BOER, Martinus C. De. [Ed.]. From Jesus to John: Essays on Jesus and New Testament Christology in Honour of Marinus de Jonge. Sheffield, JSOT Press, 1993, p.79).

(2) No que diz respeito a 2 Enoque 33:11, Testamento de Dan 6:1-5 e Testamento de Abraão 1:4, o fato destes textos chamarem o arcanjo Miguel de "mediador [de Deus]", não o qualifica ou o identifica necessariamente com o Messias. Ele é "mediador" simplesmente no sentido de que realiza a vontade de Deus entre os homens, apenas isso. Além do mais, deve-se acrescentar que no Primeiro livro de Adão e Eva, 29:6,8; 31:5, Miguel é chamado claramente de "anjo". No Livro da Ascensão de Isaías 3:16, Miguel é denominado apenas "arcanjo". No Testamento de Abraão, Cap.1, Miguel é chamado tanto de "arcanjo" quanto de "príncipe", demonstrando aqui que este "príncipe" dos anjos era somente mais um "anjo". Aliás, esta mesma lógica atravessa todo o restante do Testamento de Abraão. No Livro de Enoque, 71:2, Miguel é chamado simplesmente de "o Anjo Miguel, um dos arcanjos". E, por fim, no Apocalipse de Moisés, Miguel é chamado novamente de "arcanjo". Inferir que Miguel seja mais do que um arcanjo em todos estes textos é simplesmente ir além do que os textos dizem e impor-lhes um significado que eles não pretendem transmitir.

(3) Finalmente, no que se refere a 1QM 17:7-8, tal texto não identifica Miguel em momento algum com o "Messias". Aliás, segundo o contexto imediato (1QM17:6), Miguel é chamado apenas de "anjo majestoso". Além do mais, há uma certa semelhança entre 1QM17:5-7 e Apocalipse 12:7-9, texto este que narra a batalha entre "[o arcanjo] Miguel e os seus anjos (...) contra o dragão" (Ap 12:7). Some-se a estes dados ainda o fato de 1QM9:14-16 (no contexto anterior de 1QM 17:7-8) relacionar o anjo Miguel com outros anjos, Sariel, Rafael e Gabriel. Portanto, não há absolutamente nada nestes contextos que identifique claramente Miguel com o Messias.

Não satisfeito com nossa apresentação, o personagem revidou ao seu estilo:

Personagem:

“Amigo, vamos lá:
1) Muito embora o texto do Sefer Ha- Milhama seja fragmentado, ahá elementos que permitem reconstruir a leitura na qual Miguel é o Príncipe da congregação. A linha 2 do fragmento 5, NÃO ESTÁ FRAGMENTADA quando se referen a raiz de Jessé. Você deveria ter ido olhar no manuscrito. O מגזע ישי é o נשיא העדה. E este é o Priíncipe de Israel, na linha 2 do fragmento 10. Este príncipe, de acordo com Daniel 12 é Miguel. Logo, contrário a J.J. Collins, é segura a identificação da Raiz de Davi no Sefer, como Miguel.

2) Eu me recordo que o Novo Testamento afirma que HÁ APENAS UM MEDIADOR ENTRE D-US E O HOMEM. Logo, seu primeiro argumento é o do desespero. E ser chamado de anjo ou arcanjo não significa que Ele seja criado, uma vez que Malachim em hebraico e Angelos em grego são termos funcionais, como uma olhadinha em qualquer dicionário bíblico ajuda.
Tchau Samechá!!”


           Então, novamente e pela última vez, trouxemos outra explicação:

Nós:

Mais uma vez sua fala não te ajudou. Vejamos:

(1) A referência à raiz de Jessé está clara nos fragmentos. Contudo, esta figura messiânica chamada "príncipe da congregação" não é identificada com "Miguel" em 4Q285. Aliás, Miguel nem mesmo é citado em 4Q285. Além disso, 4Q285, no fragmento 5, linhas 1 e 2, cita (conforme a reconstrução do texto) Isaías 10:34 e Isaías 11:1, textos estes claramente messiânicos, mas não menciona em momento algum Daniel 12, não tendo, portanto, nenhuma ligação com esse texto. Além do mais, cabe ressaltar que o mesmo Miguel que é chamado em Daniel 12:1 de "o grande príncipe", foi chamado antes, em Daniel 10:13, de "UM DOS primeiros príncipes", tradução esta confirmada pelo Tanakh publicado pela Jewish Publication Society (JPS), que traz: "Michael, ONE OF THE chief princes" e também pela Bíblia Hebraica da Sêfer, que diz: "Mihael, UM DOS mais destacados representantes celestes". Portanto, identificar "Miguel" com "a raiz de Davi" no Sêfer Ha-Milhama é algo estranho.

(2) Sim, "há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, HOMEM (ἄνθρωπος, e não ἄγγελος ou ἀρχαγγέλος)" (1 Timothy 2:5). Jesus é o único mediador salvífico entre Deus e os homens (cf. 1 Tm 2:5; Hb 8:6; 9:15; 12:24). Aliás, "o Filho" (Jesus) (cf. Hebreus 1:1) foi "feito tanto MAIS EXCELENTE DO QUE OS ANJOS, quanto herdou mais excelente nome do que eles" (Hebreus 1:4). Além disso, "a qual dos anjos [Deus] disse jamais: Assenta-te à minha destra, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés?" (Hebreus 1:13). Deus disse isso a Miguel alguma vez? É claro que não. Tais "anjos", diferentemente do "Jesus Cristo, homem", são "ESPÍRITOS MINISTRADORES, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação" (Hebreus 1:14). Diante desses dados, confundir Jesus com um "anjo" é algo bastante herético.

Depois daqui o personagem não nos rebateu mais. Antes, debochou e se foi.



Por Cristo, Itard Víctor

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