A
Crítica Textual é a disciplina que se ocupa em restaurar o texto original de um
determinado manuscrito antigo.
Esse método de
restauração é aplicado ao Novo Testamento para ajudar no processo de tradução
uma vez que não temos os autógrafos (originais) e sim cópias das cópias desses,
que geraram um bom número de divergências em alguns pontos nos mais de 5 mil
manuscritos relacionados à Bíblia conhecidas como Variantes Textuais.
No Antigo Testamento
temos um número bem inferior ao NT, pois os escribas ou copistas massoretas
foram mais caprichosos em seus trabalhos de transmissão textual.
As variantes textuais
no Novo Testamento aparecem quando copistas fazem intencionalmente ou
acidentalmente mudanças de um texto quando são reproduzidos. O teólogo alemão
Eberhard Nestle (1815—1913), conhecido pela edição Nestle-Aland do Novum
Testamentum Graece, estimulou que existem cerca de 150.000 - 200.000 variantes
no texto do Novo Testamento.
Bart D. Ehrman (1955—),
um acadêmico minimalista bíblico norte-americano, afirma que existem até
400.000 variantes. O biblicista
conservador Jack Moorman, por outro lado, pondera que dos cerca de 5 mil
manuscritos existentes hoje, 99% deles concordam em mais de 99% entre si. Uma
das maiores autoridades em grego neotestamentário, Bruce Manning Metzger, ex- professor
emérito do Princeton Theological Seminary (Antigo Professor de Bart D. Ehrman),
afirma que as diferenças não afetam substancialmente nenhuma doutrina cristã.
Norman Geisler e Willian Nix acrescentam: “O Novo Testamento, então, não apenas
sobreviveu em maior número de manuscritos que qualquer outro livro da
antiguidade, mas sobreviveu em forma mais pura que qualquer outro grande livro
– uma forma 99,5% pura”.
Variantes Acidentais
As alterações acidentais
ou involuntárias compreendem todas as modificações não intencionais provocadas
no texto. Dentre elas podem ser destacadas:
·
Equívocos visuais eram ocasionados pela semelhança entre algumas letras do
alfabeto grego, mas também pela escrita contínua da época. Podiam surgir quando
copistas sofriam astigmatismo ou miopia. O erro visual, denominado parablepse (olhar para o lado), ocorria
geralmente quando duas linhas consecutivas apresentavam palavras iguais ou
semelhantes no final delas ( homeoteleuto) ou no início (homeoarcton), levando os copistas a saltar uma linha fazendo com
que aquele texto fosse omitido.
·
Equívocos auditivos, conhecidos como (iotacismo),
ocorriam quando havia a mesma pronúncia grega para vogais ou ditongos
diferentes (algumas vezes os textos eram ditados para os copistas).
·
Falhas mentais como a ditografia
(copiar letras ou sílabas por duas vezes) e a haplografia (omissão de uma ou mais letras).
Variantes Intencionais
·
As alterações intencionais compreendem
todas aquelas que os copistas efetuaram conscientemente nos textos. Como por
exemplo, citamos as seguintes:
·
Harmonizações: Ocorrem, sobretudo, entre
os textos dos evangelhos sinóticos. Quando as diferenças entre os textos dos
evangelhos não eram consideráveis, costumava-se harmonizar os seus conteúdos.
·
Correções de ortografia, gramática ou
estilo.
·
Correções explicativas ou doutrinárias.
·
Acréscimos com complementos naturais e
interpolações de notas marginais.
·
Correções geográficas e históricas.
Exemplo de alteração
acidental
Quando lemos o texto de Ap 22:14 nos códices
Sinaítico e Alexandrino, há a seguinte expressão grega:
Μακάριοι οἱ πλύνοντες τὰς στολὰς αὐτῶν
(Bem-aventurados os que lavam as suas
vestiduras).
Sinaítico
Alexandrino
O termo em destaque é o vocábulo (stolas) que significa vestes ou
vestiduras.
Porém há versões como a Siríaca, Copta, Textus
Receptus como nos escritos de Cipriano, que aparece o vocábulo ἐντολὰς (entolas) que significa mandamento. Vejamos as duas formas:
πλύνοντες τὰς στολὰς αὐτῶν (lavam as suas
vestiduras).
ποιοῦντες τὰς ἐντολὰς αὐτοῦ (guardam os seus
mandamentos).
Esse é um dos exemplos
da falha acidental, pois o copista confundiu o “S” com “EN” ao ouvir
ou ao ler o texto original contribuindo assim para essa Variante Textual.
A Almeida Corrigida
Fiel (ACF) preferiu a expressão “guardam os seus mandamentos”.
A Almeida Revista e
Atualizada (ARA) como a maioria das versões, preferiu a expressão “lavam as
suas vestiduras”.
Outros exemplos de
alteração acidental que ocorreu, foram com os pronomes plurais ἡμεῖς (nós) e ὑμεῖς
(vós) pelo fato de no grego as vogais eta, iota e ipsilom, e os ditongos ei, oi
e ui terem a mesma pronúncia.
Exemplo de alteração
intencional
O texto de 1Jo 5:7- é um dos mais famosos textos
intencionais que muitos o denominam como Texto Teológico por ele não ser
encontrado nos mais antigos manuscritos e ser entendido como um acréscimo de um copista que cria na doutrina da Trindade. Embora esta leitura, conhecida como
‘parêntese joanino’, aparece no textus
receptus e em traduções mais antigas como KJV
e ARC, ela está ausente de praticamente todos os manuscritos gregos, de
todas as versões antigas com exceção da latina, e não aparece em nenhuma
citação dos Pais da Igreja. Se esse texto tivesse constado no autógrafo, é
muito pouco provável que teria sido omitido, seja de forma acidental, seja de
forma deliberada.
Nós códices mais antigos como o
Sinaítico e Vaticano,ambos do século IV, não vemos a expressão (...no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um.) ‘parêntese joanino’, mas apenas a a leitura ὅτι τρεῖς εἰσιν οἱ μαρτυροῦντες, no Vaticano e ὅτι οἱ τρεῖς εἰσιν οἱ μαρτυροῦντες, no Sinaítico, que podem ser traduzidas como "Pois há três que dão testemunho" (ARA)
Sinaítico
Vaticano
Outro exemplo de alteração intencional pode ser encontrado no livro
de Hebreus; pois lá, há uma passagem na qual, de acordo com a maioria dos manuscritos, é
nos dito que "Cristo sustém [grego: pheron] todas as coisas pela palavra
do seu poder" (Hebreus 1,3). Contudo, no Códice Vaticano, o copista
original produziu um texto ligeiramente parecido em grego; ali, o texto diz,
por sua vez: "Cristo manifesta [grego: phaeneron] todas as coisas pela
palavra do seu poder". Alguns séculos mais tarde, um segundo copista leu
esta passagem no manuscrito e decidiu mudar a palavra manifesta, um
tanto incomum, por uma leitura mais comum, sustem- apagando uma palavra e
escrevendo outra. Posteriormente, alguns séculos mais tarde, um terceiro
copista leu o manuscrito e se deu conta da alteração que seu predecessor
perpetrara. Ele, então, por sua vez, apagou a palavra sustem e
reescreveu a palavra manifesta. E depois acrescentou uma
nota de copista à margem para indicar o que ele achava do primeiro e do segundo
copistas. A nota diz:
"Insensato
e desonesto, deixe o texto antigo, não o altere!.
Orígenes chegou a fazer um comentário acerca da forma como os copistas estavam trabalhando:
Infelizmente há céticos que de tudo fazem para tentar anular a confiabilidade do Novo Testamento por causa das insignificantes divergências aqui apresentas. Todavia, eles precisam saber que antes de haver essas variantes, as doutrinas já estavam elaboradas pelos apóstolos inspirados pelo Espírito Santo que podem ser vistas no decorrer das Escrituras como também nos escritos posteriores dos Pais da Igreja que se possível, poderiam montar toda a Bíblia caso não tivéssemos os melhores manuscritos, pois Orígenes citou os versículos da Bíblia aproximadamente 17.922 vezes, Clemente de Alexandria, 2. 406, Ireneu, 1.819 e Justino Martir 387, de um total de 86. 489 citações da patrística.
Itard Víctor Camboim de Lima.
Bibliografia:
OMANSON,
Roger L., Variantes Textuais do Novo Testamento. SBB.
WEGNER.
Uwe. Exegese do Novo Testamento. Editora Sinodal.
EHRMAN, Bart D., O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse?. Prestígio.
EHRMAN, Bart D., O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse?. Prestígio.
Muito bom meu amado Deus te abençoe
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