Um resumo da tese
defendida pelo gramático, crítico textual e pós-doutor em língua grega do Novo
Testamento, Daniel B Wallace na obra (UMA SINTAXE
EXEGÉTICA DO NOVO TESTAMENTO, p. 270-290).
Esta regra mostra
de forma irrefragável por meio da gramática grega que Jesus é Deus.
Introdução
Em grego, quando dois nomes conectados com kai, e o artigo precede somente o primeiro nome,
haverá uma conexão entre os dois. Essa conexão sempre indica, pelo menos, algum
tipo de unidade. Em um nível mais
alto, pode conotar igualdade. Em
nível elevadíssimo pode indicar identidade.
Quando a construção encontra três exigências
específicas, então dois nomes sempre se referem à mesma pessoa. Quando a construção não encontrar esses
requerimentos, os nomes podem ou não referirem-se á(s) mesma(s) pessoa(s)/
objeto(s).
Descoberta da “Regra de Granville Sharp”
Granville Sharp, filho do diácono superior e neto de um
arcebismo, foi um filantropo inglês e evolucionista (1735-1813). Ele é
conhecido pelos estudantes de história como “ o Abraão Lincoln da Inglaterra”,
devido a seu papel-chave na abolição da escravatura. Sem treinamento teológico específico,
foi um estudante das Escrituras. Sua forte convicção na Divindade de Cristo o
levou a estudar a Bíblia no original a fim de defender mais habilmente essa
convicção. Embora tal motivação o transformasse relativamente em bom linguista,
capaz de lidar com os textos grego e hebraico. À medida que estudava as
Escrituras, no original, notou certo padrão: quando havia uma construção do
tipo artigo-substantivo-kai-substantivo (ASKS) envolvendo nomes pessoais singulares e que
não eram nomes próprios, esses sempre se referiam à mesma pessoa.
Declaração da Regra
Sharp realmente notou seis regras sobre o uso
do artigo, contudo somente a primeira dessas é que ficou conhecida como a Regra
de Sharp, por causa de sua importância para os textos que tratam da deidade de
Cristo. Consequentemente, “ela possui mais resultados do que as demais...”38 Essa regra declara
Quando a partícula καὶ conectar dois
nomes no mesmo caso, [ou seja, nomes( substantivo, adjetivos ou particípios) de
descrição pessoal, referindo-se a ofício, dignidade, afinidade ou conexão,
atributos, propriedades, ou qualidade boas ou más], e se o artigo ὁ , ou qualquer uma de suas formas
declináveis, preceder o primeiro nome ou particípio, e se não repetir-se antes
do segundo nome ou particípio, o último sempre se relacionará à mesma pessoa
expressa ou descrita pelo primeiro nome ou particípio. Ou seja, denotará outra
descrição ao nome inicialmente citado...39
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38 Sharp, Remarks
on the Uses os the Definitive Article, 2.
39 Ibid., 3 (itálicos no original).
Embora Sharp incluísse aqui somente
substantivos pessoais singulares, não havia base para se crer que ele pretendia
restringir sua regra a isso. No entanto, a leitura de sua monografia revela que
poderia aplicá-la, apenas e absolutamente, a nomes pessoais singulares e que
não fossem nomes próprios 40
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40 Veja Wallace, “O artigo com Múltiplos
Substantivos”, 47-48, para documentação.
Em outras palavras, na construção ASKS ( artigo+ substantivo+kai+
substantivo), o segundo nome 41 refere-se à mesma pessoa mencionada com o primeiro quando:
( 1)
não for
impessoal;
( 2)
não for plural;
( 3)
não for nomes
próprio.42
Portando, de
acordo com Sharp, a regra será aplicada só
e exclusivamente com nomes pessoais singulares e nomes que não são
próprios. A importância desses requerimentos pode ser subestimada caso não se
atente para o seguinte princípio: Sharp a aplicou quase, sem exceção, a nomes
que detinham essas características.
Mas compreensões
derivam-se da não familiarização com restrições classificadas por Sharp.
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41 Por “nome”
queremos dizer o que Sharp pretendia: adjetivo substantivado, particípio
substantivado ou substantivo.
42 Um
nome/substantivo próprio é definido como um nome que não pode ser
“transformado” em um plural”- assim não inclui títulos. Um nome de uma pessoa,
portanto, é próprio e, consequentemente, não se encaixa na regra. Mas θεὸς não
é próprio porque pode ser posto no plural-então, quando θεὸς estiver em uma
construção ASKS em que ambos os nomes são singular e pessoal, ele se encaixa na
regra de Sharp. Visto que θεοί é possível (cf Jo 10:34), θεὸς não é um nome
próprio.
Textos de significância Cristológica
τοῦ μεγάλου θεοῦ καὶ σωτῆρος ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ, (Tt 2:13)
do
grande Deus e Salvador nosso Jesus Cristo (Interlinear- SBB)
ASKS
Quando a partícula καὶ conectar dois
nomes no mesmo caso e se o artigo ὁ , ou qualquer
uma de suas formas declináveis, preceder o primeiro nome ou particípio, e se
não repetir-se antes do segundo nome ou particípio, o último sempre se
relacionará à mesma pessoa expressa ou descrita pelo primeiro nome ou
particípio.
τοῦ (Artigo), θεοῦ (Substantivo), καὶ (Conjunção), σωτῆρος (Substantivo)
do grande
Deus e Salvador nosso Jesus Cristo (Interlinear SBB).
τοῦ θεοῦ ἡμῶν καὶ σωτῆρος Ἰησοῦ Χριστοῦ, (2Pe 1:1)57
do Deus nosso e Salvador Jesus Cristo (Interlinear SBB).
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57 א ψ et pauci têm κυρίου em lugar de θεοῦ.
Alguns do tantos outros versos que se encaixam
na regra de Granville-Sharp
τὸν πατέρα μου καὶ πατέρα (Jo 20:17)
τῶν οἰκτιρμῶν καὶ θεὸς (2Co 1:3 BNT).
τὸν ἀδελφὸν ἡμῶν καὶ συνεργὸν (1Ts 3:2 BNT).
τῆς πίστεως ἀρχηγὸν καὶ τελειωτὴν (Hb 12:2 BNT).
ὁ ἀδελφὸς ὑμῶν καὶ συγκοινωνὸς (Ap 1:9 BNT).
Explicação sobre 2Pe 1:1 e 1Ts 1:12
Alguns gramáticos
têm objetado: uma vez que ἡμῶν está conectado a θεοῦ, duas
pessoas estão sob consideração. O pronome parece “delimitar” o substantivo,
isolando efetivamente o que está antes dele. Porém, no v. 11 desse mesmo
capítulo (bem como em 2:20 e 3:18), o autor escreve τοῦ κυρίου ἡμῶν καὶ σωτῆρος Ἰησοῦ Χριστοῦ, uma expressão que se refere a uma
pessoa, Jesus Cristo: “Por que recusar-se em aplicar a mesma regra a 2Pd 1:1, o
que todos admitem...ser verdade em 2Pd 1:1 [sem mencionar 2:20 e 3:18]? Além do
que, mais da metade dos textos no NT que se encaixam na regra de Sharp envolve
alguma palavra entre os dois substantivos. Várias deles tem um pronome
possessivo ou outro genitivo modificador. Todavia, em todas essas construções,
somente uma pessoa está vista. Nesses exemplos, o termo interventor não efetua
nenhuma interrupção na construção. Sendo esse o caso, não existe razão
plausível para se rejeitar 2Pd 1:1 como uma afirmação explícita da deidade de
Cristo.
2Ts 1:12
É surpreendente
que muitos eruditos (alguns notáveis, e.g., R. Bultmann) tenham considerado 2Ts
1:12 como uma afirmação explícita da deidade de Cristo. Só por separar κυρίου de Ἰησοῦ Χριστοῦ,, poder-se-ia aplicar a
regra de Sharp a essa construção. De forma mais significante, Middleton, de
quem o Doctrine of the Greek Articule
foi a primeira grande obra para sustentar a regra de Sharp, rejeita 2Ts 1:12,
afirmando que (1) κυρίου deveria estar desconectado de Ἰησοῦ Χριστοῦ, visto que
o todo forma um título comum nas epístolas, participando assim das propriedades
de um nome próprio; e (2) Embora os escritores patrísticos gregos empregassem a
frase de Tt 2:13 e 2Pe 1:1 sobre numerosas ocasiões para afirmar a deidade de
Cristo, ele dificilmente teria notado essa passagem (Douctrine of the Greek Articule, 379-82). Cf. também Matthews,
Syntax, 228-29, para argumentos linguísticos modernos relacionados a gradações
do aposto (em 2Ts 1:12 muitos exegetas veriam “Senhor Jesus Cristo” como sendo
um “aposto fechado”).
Itard Víctor Camboim De Lima, 19/11/2014
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